quarta-feira, 27 de março de 2013

Carta de uma suicida

“Claro, não foi a primeira vez que pensei nisso. Desde a adolescência sonho com minha morte. Minhas depressões dissipavam-se com tais fantasias e, ao final, não eu mas algo em mim morria, deixando-me a paz de espírito como herança. Infelizmente fui perdendo pouco a pouco tão útil capacidade onírica e, hoje, só a realidade poderia levar a cabo tal missão. Não, não tenho medo da morte. Eu já a senti algumas vezes e ela pareceu-me boa. O que realmente temo é a possibilidade de não-realização. Por medo dela, eu me mato. Pois tenho, desde muito, cultivado meu ser para grandes criações — não posso trair meu destino, mas posso esquivar-me de seu raio de ação, sendo que o que está fora é a própria morte. O destino contém sua própria impossibilidade, pois nada pode ser absoluto. Eu estou cansada. E estou envergonhado por estar cansada — aos olhos alheios — com tão pouco. Meu sofrimento é pequeno, mas minha dor é grande. Tampouco suporto repisar caminhos trilhados já tantas vezes: o lobo da estepe, coitado do Álvaro de Campos, que nunca será nada! Mas para quê tanto pudor? Realmente não tenho importância absolutamente nenhuma.”

— Carta de uma suicida

2 comentários:

  1. Bom dia!
    Não vá fazer uma coisa dessas...
    Vi seu blog no Perfect Girls e vim visitar.
    Até mais!

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  2. Oi, não sei se lembra de mim mas estou de volta e se precisar de alguma coisa, qualquer coisa é só me avisar, ou me mandar um email - diadegato@gmail.com
    Mil beijos

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